Fico contente por viver num país que não é um fantoche nem do Vaticano nem dos Estados Unidos. Fico contente por viver num país cujas pessoas não são meros sub-produtos com uma obsessão por um estilo de vida. Fico contente por viver num país que
sabe onde está e para onde vai.
Mais uma vez Portugal discute sobre a interrupção voluntária da gravidez. O que mudou desde o último referendo há 8 anos?
Mais sofrimento das mulheres. Mas querem fazer um novo referendo. Que é um atestado de incompetência aos deputados da República Democrática Portuguesa, afinal eles foram eleitos pelo povo. Porque não decidem na sede própria que é a Assembleia da Republica?
Mas para quem não sabe, a pergunta que vão colocar no referendo é "Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?". Porque é esta a questão, saúde pública. Vida digna.
Portugal é um país laico com liberdade de associação religiosa. Os portugueses têm todo o direito de professarem a religião católica, muçulmana, budista ou judia. Mas não têm o direito de obrigarem os outros a regerem-se pelas "suas" regras.
É que o problema nem sequer está em Portugal ser o único país da Europa em que ainda se luta pela liberalização da interrupção voluntária da gravidez, é a hipocrisia normal dos restícios salazarentos em que uma mulher que tenha dinheiro vai a Espanha ou a outro país qualquer e faz o aborto sem qualquer problema, quem não tem dinheiro faz o aborto na esquina ao lado em situações desumanas sem o mínimo de dignidade e higiene.
O verdadeiro problema do Vaticano e da ICAR não é com o preservativo nem com o aborto mas sim, se aceitasse ambos, estariam implicitamente a "aceitar" a prática de sexo sem intuito reprodutivo.
Mas sim, não sou católico. Sou ateu.
E talvez por isso só consiga classificar de hipócritas e criminosos aqueles que dizem que quem aborta ou quem faz abortos, em quaisquer circunstâncias e seja qual for o motivo, mesmo salvar a vida da mulher merece a
excomunhão católica automática enquanto assassinos e
violadores de crianças podem sempre ser perdoados.
Para a Igreja Católica, o aborto constitui sempre "um ataque à vida humana" - subentendendo-se que para a ICAR a mulher é um sub-humano sem quaisquer direitos e todas as mulheres devem deixar-se de relativismos ateus e assumir o seu papel "divinamente" predestinado de meras parideiras sem quaisquer direitos. Como confirmado, por exemplo, pelas declarações do responsável do
Conselho Pontifical da Família em relação à
recente alteração na legislação da Colômbia, que permite o aborto em caso de violação, malformações fatais do embrião/feto e quando a vida da gestante está em perigo.
É triste saber que daqui a alguns anos (poucos) um papa vai estar a pedir desculpa à humanidade pelos crimes deste, tal como este faz com os anteriores.
Esta é a análise real da situação real.
Ah, não quero ofender ninguém com este post mas estou farto de meias palavras. Vou votar "Sim, concordo." nem que tenha de ir à Embaixada Portuguesa em Pequim.
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